Eu serei feminista até ao momento em que não seja preciso ser mais. Na questão do aborto, acho que é preciso apelar ao feminismo das mulheres, no sentido de terem mais consideração por si mesmas. Irrita-me e entristece-me ver mulher nos movimentos do "não" dizerem que é preciso salvaguardar as mulheres das consequências do aborto - porque as mulheres, coitadinhas, não sabem tomar decisões e precisam de ser protegidas de si próprias. Um homem a dizer isto, ainda vá, vivemos na sociedade em que vivemos. Mas uma mulher a defender que é preciso uma lei para impedir que as mulheres façam asneiras é de vomitar. Ainda não vi um único argumento do "não" que saia desta lógica. Outro dia, um católico empederdino que votou não no referendo anterior, explicou porque mudou de ideias e vai votar sim neste: "Sou totalmente contra o aborto, mas o castigo de uma mulher que aborta está na sua própria consciência". E mais nada.
Eu só sou feminista na medida em que acredito na igualdade de direitos (admito que as mulheres me parecem superiores, mas isso é completamente 'off the record' e baseado em instintos primários e pouco evoluídos)
Já me estou a preparar para mais uma vitória do “não” no próximo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez (basta ler os jornais para ver o rumo que a coisa está a tomar). Mas, e esta é uma questão importante, as pessoas vão votar “NÃO” a quê? Pessoalmente, e já aqui o disse, discordo totalmente da existência de um referendo popular. Acho que este problema deveria ser decidido por decreto-lei na Assembleia da República e não através da consulta popular. Porquê? Por dois motivos: Primeiro, a interrupção voluntária da gravidez (e não “ABORTO”) é um problema de saúde pública que se circunscreve a casos individuais e não a decisões colectivas. Segundo, grande parte do povo português não entende o que está realmente em causa nesta lei (preferem aprofundar temas relacionados com futebol ou a vida da vizinha do lado). Os portugueses encaram a interrupção voluntária da gravidez emotivamente em vez de se regerem pelo BOM SENSO, que é a ferramenta essencial na abordagem a este tema. Não entendem que a pergunta do referendo não é: - “É a FAVOR ou CONTRA o ABORTO?”, mas sim: - “Concorda com a DESPENALIZAÇÃO da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por OPÇÃO DA MULHER, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde LEGALMENTE AUTORIZADO?". Votar “sim” no referendo não é votar a favor do aborto. É votar contra a PENALIZAÇÃO desse acto, é ser contra a lei que considera o aborto um CRIME. É ter o bom senso de considerar que uma mulher que o realizou, por motivos que SÓ A ELA LHE DIZEM RESPEITO, não tenha de ser presente a um tribunal para justificar e ser punida por esse acto (que certamente não decidiu e realizou de ânimo leve). Não sou a favor nem contra o aborto, penso que esse é um problema social muito delicado que necessita de ser analisado caso a caso e não de uma forma generalizada. Sou sim contra a PENALIZAÇÃO da interrupção voluntária da gravidez, e é por isso que no referendo, a 11 de Fevereiro, vou votar “SIM”.
ps: este é um texto do meu amigo nuno, que hoje publicou no seu blog. não podia concordar mais! e tal como a dora eu serei feminista até... beijinhos, da subtil
8 comments:
se fosse assim tão óbvio, não seria ainda considerado um crime...
Não existem coisas óbvias. Ou existem?
Porque são as mulheres que engravidam. Se fossem os homens, há muito que o aborto seria legal. E eu não sou feminista.
se tudo o que nós achamos fosse assim tão "óbvio e evidente"* para os outros, ai... tanta coisa se resolvia neste mundo!
* expressão muito usada por alguém que conheço e que me mexe com os nervos...
(e mesmo entre as mulheres não é totalmente óbvio...)
Eu serei feminista até ao momento em que não seja preciso ser mais. Na questão do aborto, acho que é preciso apelar ao feminismo das mulheres, no sentido de terem mais consideração por si mesmas. Irrita-me e entristece-me ver mulher nos movimentos do "não" dizerem que é preciso salvaguardar as mulheres das consequências do aborto - porque as mulheres, coitadinhas, não sabem tomar decisões e precisam de ser protegidas de si próprias.
Um homem a dizer isto, ainda vá, vivemos na sociedade em que vivemos. Mas uma mulher a defender que é preciso uma lei para impedir que as mulheres façam asneiras é de vomitar. Ainda não vi um único argumento do "não" que saia desta lógica.
Outro dia, um católico empederdino que votou não no referendo anterior, explicou porque mudou de ideias e vai votar sim neste: "Sou totalmente contra o aborto, mas o castigo de uma mulher que aborta está na sua própria consciência". E mais nada.
Eu só sou feminista na medida em que acredito na igualdade de direitos (admito que as mulheres me parecem superiores, mas isso é completamente 'off the record' e baseado em instintos primários e pouco evoluídos)
Já me estou a preparar para mais uma vitória do “não” no próximo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez (basta ler os jornais para ver o rumo que a coisa está a tomar).
Mas, e esta é uma questão importante, as pessoas vão votar “NÃO” a quê?
Pessoalmente, e já aqui o disse, discordo totalmente da existência de um referendo popular. Acho que este problema deveria ser decidido por decreto-lei na Assembleia da República e não através da consulta popular. Porquê? Por dois motivos: Primeiro, a interrupção voluntária da gravidez (e não “ABORTO”) é um problema de saúde pública que se circunscreve a casos individuais e não a decisões colectivas. Segundo, grande parte do povo português não entende o que está realmente em causa nesta lei (preferem aprofundar temas relacionados com futebol ou a vida da vizinha do lado). Os portugueses encaram a interrupção voluntária da gravidez emotivamente em vez de se regerem pelo BOM SENSO, que é a ferramenta essencial na abordagem a este tema. Não entendem que a pergunta do referendo não é: - “É a FAVOR ou CONTRA o ABORTO?”, mas sim: - “Concorda com a DESPENALIZAÇÃO da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por OPÇÃO DA MULHER, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde LEGALMENTE AUTORIZADO?".
Votar “sim” no referendo não é votar a favor do aborto. É votar contra a PENALIZAÇÃO desse acto, é ser contra a lei que considera o aborto um CRIME. É ter o bom senso de considerar que uma mulher que o realizou, por motivos que SÓ A ELA LHE DIZEM RESPEITO, não tenha de ser presente a um tribunal para justificar e ser punida por esse acto (que certamente não decidiu e realizou de ânimo leve).
Não sou a favor nem contra o aborto, penso que esse é um problema social muito delicado que necessita de ser analisado caso a caso e não de uma forma generalizada. Sou sim contra a PENALIZAÇÃO da interrupção voluntária da gravidez, e é por isso que no referendo, a 11 de Fevereiro, vou votar “SIM”.
ps: este é um texto do meu amigo nuno, que hoje publicou no seu blog. não podia concordar mais! e tal como a dora eu serei feminista até...
beijinhos, da subtil
e eu só só mais feminista na medida em que acredito mais ainda na igualdade de DEVERES. :p
mas se não aparece ninguém do Não, isto não tem piada nenhuma...
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